Os fabricantes de relógios andam preocupados. Há toda uma geração de consumidores jovens que não enxergam nenhuma utilidade em andar com um relógio no pulso, quando podem simplesmente consultar o celular. E a dor de cabeça da indústria tende a aumentar, porque estão chegando no mercado os esperados smartwatches, pequenas maravilhas tecnológicas que, além de marcar as horas, ainda tiram fotos e funcionam como acessórios inteligentes do celular. A indústria teme que, no futuro, as crianças de hoje não achem graça alguma em carregar no pulso um relógio tradicional, destes com ponteiros que marcam horas, minutos e segundos.
Também preocupadas estão as empresas de fotografia, que já foram obrigadas a se reinventar por conta das fotos digitais. Como os smartphones trazem câmeras cada vez mais poderosas, muitos consumidores estão abandonando as ‘velhas’ máquinas digitais. Para você ter uma ideia, de janeiro a julho de 2013, as encomendas de câmeras digitais recuaram 41% em comparação com o mesmo período do ano passado. Não é a toa que a Sony está agora investindo em lentes de alta qualidade, adaptáveis aos smartphones. Ou seja, para tirar fotos ainda melhores com o celular, basta encaixar as lentes Sony no seu iPhone, Galaxy ou até mesmo no Xperia, da Sony. ;-)
Estes exemplos mostram como o poder do digital anda revolucionando alguns setores do mercado. Em um relatório divulgado recentemente, o Gartner explica porque o tsunami digital vai também varrer o varejo. Vale a pena reproduzir um trecho: “Depois de um século de pequenas evoluções, o varejo está prestes a sofrer uma grande ruptura, produzida não pela tecnologia em si, mas pelas mudanças no comportamento do consumidor que essa tecnologia tornou possível”. Em outras palavras, olhar as horas e tirar fotos no celular virou algo natural para o consumidor, que as vendas de relógios de pulso e câmeras fotográficas estão caindo em toda a parte. E tudo indica que algo parecido pode acontecer também com as lojas de tijolo e cimento, inclusive aqui no Brasil.
Segundo o e-bit, no primeiro semestre de 2013 o e-commerce nacional cresceu suas vendas em 24%, bem mais que o varejo tradicional. Surpreendentemente, a categoria líder em volume de pedidos nos sites de compra brasileiros foi a de roupas e acessórios, seguida por eletrodomésticos e artigos de beleza e cuidados pessoais. Isso significa que os consumidores estão se acostumando a comprar pela internet produtos que no passado não eram levados para casa sem antes serem testados e aprovados em uma loja física. É verdade que hoje a regra é o chamado ‘omni-channel’, ou seja, a convivência integrada entre diferentes canais, subordinada à conveniência do consumidor. Isso faz com que varejistas virtuais abram lojas de tijolo e leva comerciantes tradicionais a se aventurarem no universo digital. A loja física não vai acabar, é claro. Mas sua hegemonia seguramente será bem menos expressiva no futuro.
A conclusão natural é que os shopping centers, que hoje vivem quase que exclusivamente do aluguel originário das lojas físicas, devem repensar seriamente suas estratégias. O problema é que hoje o avanço do digital não parece estar na ordem do dia das nossas principais administradoras de shoppings. Mesmo lá fora são poucas as experiências digitais, como a promovida pela GGP, que resolveu apostar na entrega no mesmo dia como estratégia - o cliente pode comprar na loja e receber em casa ou comprar online e pegar na loja em um dos quatro shoppings onde o programa está sendo testado. Há ainda quem estude o social commerce e a implantação de um marketplace virtual com a marca do shopping. O momento é esse mesmo, de estudar e experimentar caminhos, para defender a relevância. Porque o que não faltam são exemplos de que o consumidor está abraçando o digital e abrindo mão de hábitos tão arraigados como consultar relógios de pulso e usar máquinas fotográficas.
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