Muito prazer. Meu nome é Luiz Alberto Marinho. Sou um publicitário carioca, radicado em São Paulo, casado com Patrícia e pai da Carolina, uma linda menina que completa 2 anos este mês. Trabalho como consultor na área de marketing e adoro analisar o comportamento das pessoas e sua relação com o consumo, na linha do “dize-me o que compras e te direi quem és”. Foi por conta dessa mania de entender como e por que nós consumimos muito mais do que precisamos que apareci pela primeira vez aqui na Vida Simples, há vários anos, numa matéria sobre a “Sociedade do Excesso”, que descrevia o mundo estressante em que vivemos, onde as pessoas precisam lidar cotidianamente com um excesso de tarefas, decisões, informações e apelos publicitários.
Volta e meia, aliás, torno a tropeçar neste assunto do excesso. No final do ano, por exemplo, vou me mudar do apartamento que ocupo desde que cheguei à cidade, 10 anos atrás, para outro ainda em construção. Um dos diferenciais desse novo prédio, bem de acordo com a realidade dos habitantes das grandes cidades, é um depósito na garagem para que os moradores possam guardar suas tranqueiras – ou seja, aqueles objetos que ainda estão em bom estado, mas não servem mais às nossas necessidades imediatas. Estou falando da esteira de corrida que fica encostada num canto da casa, da impressora antiga, da câmera fotográfica tradicional, do velho equipamento de som, das roupas que não usamos mais e dos celulares que foram substituídos por modelos mais modernos.
Não critico quem sucumbiu à tentação de trocar um produto que funciona perfeitamente por outro apenas para sentir-se mais atual. Toda a máquina das grandes corporações trabalha arduamente para estender o conceito de moda a produtos como automóveis, refrigeradores, câmeras fotográficas, TVs e aparelhos de som. Isso significa que esses itens serão considerados irremediavelmente obsoletos em pouco tempo por muita gente, não importando se foram comprados recentemente ou se ainda cumprem adequadamente a função que deles se espera, simplesmente porque modelos mais novos e com design mais avançado foram lançados no mercado. Também contribui para isso a competição velada estabelecida por algumas pessoas para ver quem é mais antenado ou importante - a medida seria a quantidade de novos produtos em poder de cada um. Como resultado dessa ditadura do novo, durabilidade hoje é atributo bem menos valorizado pelos consumidores do que design e marca.
Dessa maneira, consolidamos um comportamento imediatista, caracterizado pela oposição entre o desejável e o descartável. Como escreveu o sociólogo Zygmunt Bauman no livro 'Vida Líquida', "em um mundo repleto de consumidores e produtos, a vida flutua desconfortavelmente entre os prazeres do consumo e os horrores da pilha de lixo". É claro que tudo isso é ruim para o planeta, hoje sufocado pelos detritos fúteis que deixamos para trás na corrida pela modernidade e status. É também mais um sinal dos novos tempos, marcados pela transitoriedade das coisas, fenômeno que se estende, é claro, também para as relações. Aos poucos, e sem perceber, vamos construindo uma sociedade descartável. E você, será que já não embarcou nessa onda, sem saber?
Volta e meia, aliás, torno a tropeçar neste assunto do excesso. No final do ano, por exemplo, vou me mudar do apartamento que ocupo desde que cheguei à cidade, 10 anos atrás, para outro ainda em construção. Um dos diferenciais desse novo prédio, bem de acordo com a realidade dos habitantes das grandes cidades, é um depósito na garagem para que os moradores possam guardar suas tranqueiras – ou seja, aqueles objetos que ainda estão em bom estado, mas não servem mais às nossas necessidades imediatas. Estou falando da esteira de corrida que fica encostada num canto da casa, da impressora antiga, da câmera fotográfica tradicional, do velho equipamento de som, das roupas que não usamos mais e dos celulares que foram substituídos por modelos mais modernos.
Não critico quem sucumbiu à tentação de trocar um produto que funciona perfeitamente por outro apenas para sentir-se mais atual. Toda a máquina das grandes corporações trabalha arduamente para estender o conceito de moda a produtos como automóveis, refrigeradores, câmeras fotográficas, TVs e aparelhos de som. Isso significa que esses itens serão considerados irremediavelmente obsoletos em pouco tempo por muita gente, não importando se foram comprados recentemente ou se ainda cumprem adequadamente a função que deles se espera, simplesmente porque modelos mais novos e com design mais avançado foram lançados no mercado. Também contribui para isso a competição velada estabelecida por algumas pessoas para ver quem é mais antenado ou importante - a medida seria a quantidade de novos produtos em poder de cada um. Como resultado dessa ditadura do novo, durabilidade hoje é atributo bem menos valorizado pelos consumidores do que design e marca.
Dessa maneira, consolidamos um comportamento imediatista, caracterizado pela oposição entre o desejável e o descartável. Como escreveu o sociólogo Zygmunt Bauman no livro 'Vida Líquida', "em um mundo repleto de consumidores e produtos, a vida flutua desconfortavelmente entre os prazeres do consumo e os horrores da pilha de lixo". É claro que tudo isso é ruim para o planeta, hoje sufocado pelos detritos fúteis que deixamos para trás na corrida pela modernidade e status. É também mais um sinal dos novos tempos, marcados pela transitoriedade das coisas, fenômeno que se estende, é claro, também para as relações. Aos poucos, e sem perceber, vamos construindo uma sociedade descartável. E você, será que já não embarcou nessa onda, sem saber?
4 comentários:
Em "As Cidades Invisíveis" de Ítalo Calvino, publicado no início da década de 70 ele já falava da cidade de Leônia, ela se reconstruía inteira a cada dia. Ao acordar cada um dos moradores providenciava lençóis novos, roupas novas, casas, ruas... a cada dia tudo se renovava em Leônia, mas também a cada dia o lixo ao redor de Leônia crescia, crescia tanto que poderia, se mal arranjado, despencar e encobrir toda a cidade.
Era difícil saber se o amor de Leônia pelo novo era maior do que o amor pelo lixo que produzia, o fato é que Leônia continuava a produzir os dois com igual intensidade.
A questão não é novidade e talvez questão mais adequada do que "será que [você] já não embarcou nessa onde", seja "quanto você já embarcou nessa onda?"
Olá Rodrigo, muito bom o seu comentário. Não li o livro, mas vou comprá-lo já. Obrigado!
Ótimo comentário do Rodrigo, lembrando o livro do Calvino que, por acaso, li recentemente. Melhor ainda é a sua resposta, bem a propósito: "vou comprar já". Esta parece ser a nossa reação a tudo que nos parece bom ou interessante.
Isso me lembra uma passagem do "Conto da Ilha Desconhecida", do Saramago: "Gostar deve ser a melhor maneira de ter. Ter deve ser a pior maneira de gostar."
Um abraço.
Excelente texto, Marinho. Acho extremamente inteligente ter a capacidade de enxergar o lado ruim de trabalho que nós mesmos fazemos (e amamos).
Postar um comentário