Loja
âncora é aquela capaz de atrair tanto clientes quanto bons lojistas para um
shopping center. No passado, em todo o mundo, loja âncora era quase sinônimo de
loja de departamentos. Pois bem, isso mudou. Matéria publicada neste último
domingo pelo Wall Street Journal mostrou que, definitivamente, o conceito de loja
âncora já não é mais o mesmo.
Vamos
aos números. Na década de 80, quando as lojas de departamentos ainda brilhavam,
havia 56 diferentes cadeias operando em terras norte americanas. Hoje esse
número não passa de 12. A Simon, maior empresa de shoppings do mundo, teve que
trocar 50 lojas de departamento em seus shoppings, apenas nos 15 últimos anos.
Na GGP, outra empresa gigante do setor, o movimento foi ainda maior: desde 2011,
65 lojas de departamentos entregaram as chaves.
Isso
não significa que o formato está condenado à extinção. Levantamento da CoStar
Group, empresa americana de Real Estate, mostrou que 46% dessas lojas de
departamentos foram substituídas por outras lojas de departamento. Por outro
lado, o espaço de 54% delas teve outro destino. Redes de fast fashion, como
H&M, Forever 21, Zara e Uniqlo, grandes lojas de artigos esportivos,
supermercados, academias de ginástica e cinemas estão ganhando o título de
novas âncoras dos shoppings nos Estados Unidos. Lojas como American Girl Place,
que investe em experiências para meninas para vender bonecas, e atrações
bancadas pela indústria, como a Crayola Experience (foto), que acaba de substituir uma
Nordstrom no Florida Mall, em Orlando, também estão em alta.
Nada
se compara, porém, com a força que a alimentação vem ganhando no mix dos
shoppings. Segundo Stephen Lebovitz, CEO da CBL & Associates, uma
Cheesecake Factory pode vender hoje tanto quanto vendia uma Sears. Não por
acaso, no mesmo Florida Mall onde a Nordstrom foi demolida, uma antiga Sears
dará lugar a um pavilhão com 23 restaurantes.
Olhando
para o lado cheio do copo, essas novas ancoragens podem oferecer melhores
alugueis para os shoppings – nos Estados Unidos elas pagam até 10 vezes mais
por metro quadrado, segundo a CoStar. Além disso, as lojas de departamentos já
não impulsionam o desempenho dos shoppings como antes. Para dar uma ideia da
situação, basta dizer que, entre 2005 e 2015, as vendas das lojas de
departamentos caíram 10%, enquanto as lojas especializadas cresceram 33%
Em
resumo, alimentação, esporte, serviços, entretenimento e operações varejistas
orientadas para experiências são as novas ancoragens em shoppings
internacionais. E por aqui, para onde vamos?
Tudo
indica que os rumos são parecidos. O setor de alimentação é um bom exemplo
disso. Pouca gente discorda de que, também no Brasil, comida é uma âncora poderosa
para os shoppings, seja na forma de restaurantes tradicionais, casual dining,
padarias, empórios, quiosques de indulgências doces, festivais de food trucks
ou food bikes.
Nossos
magazines foram ágeis ao incorporarem os conceitos do fast fashion e nossas
principais âncoras, como Renner, Riachuelo e C&A, já operam em sintonia com
as modernas tendências do varejo de moda global. Outras operações, como cinemas
e serviços, como co-working, bancos, academias, cursos e centros médicos, os
shoppings brasileiros já ofereciam antes mesmo do que os americanos.
Também
aqui, como lá, a indústria está sendo poderosa aliada dos shoppings nesta nova
fase, tendo em vista a necessidade de aproximar-se dos seus consumidores por meio
de ‘brand spaces’: lojas, quiosques ou espaços temporários desenhados para
fazer com que os clientes ‘experimentem’ as propostas da marca.
Concluindo:
o processo de reinvenção do mix de lojas em shopping centers está em pleno
curso também no Brasil e não estamos neste quesito em desvantagem na comparação
com mercados mais desenvolvidos. Afinal, como dizia Platão, “a necessidade é a
mãe da invenção”.
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