terça-feira, 17 de setembro de 2013

Relógios de pulso, máquinas fotográficas e os perigos da cultura digital

Os fabricantes de relógios andam preocupados. Há toda uma geração de consumidores jovens que não enxergam nenhuma utilidade em andar com um relógio no pulso, quando podem simplesmente consultar o celular. E a dor de cabeça da indústria tende a aumentar, porque estão chegando no mercado os esperados smartwatches, pequenas maravilhas tecnológicas que, além de marcar as horas, ainda tiram fotos e funcionam como acessórios inteligentes do celular. A indústria teme que, no futuro, as crianças de hoje não achem graça alguma em carregar no pulso um relógio tradicional, destes com ponteiros que marcam horas, minutos e segundos.

Também preocupadas estão as empresas de fotografia, que já foram obrigadas a se reinventar por conta das fotos digitais. Como os smartphones trazem câmeras cada vez mais poderosas, muitos consumidores estão abandonando as ‘velhas’ máquinas digitais. Para você ter uma ideia, de janeiro a julho de 2013, as encomendas de câmeras digitais recuaram 41% em comparação com o mesmo período do ano passado. Não é a toa que a Sony está agora investindo em lentes de alta qualidade, adaptáveis aos smartphones. Ou seja, para tirar fotos ainda melhores com o celular, basta encaixar as lentes Sony no seu iPhone, Galaxy ou até mesmo no Xperia, da Sony. ;-)

Estes exemplos mostram como o poder do digital anda revolucionando alguns setores do mercado. Em um relatório divulgado recentemente, o Gartner explica porque o tsunami digital vai também varrer o varejo. Vale a pena reproduzir um trecho: “Depois de um século de pequenas evoluções, o varejo está prestes a sofrer uma grande ruptura, produzida não pela tecnologia em si, mas pelas mudanças no comportamento do consumidor que essa tecnologia tornou possível”. Em outras palavras, olhar as horas e tirar fotos no celular virou algo natural para o consumidor, que as vendas de relógios de pulso e câmeras fotográficas estão caindo em toda a parte. E tudo indica que algo parecido pode acontecer também com as lojas de tijolo e cimento, inclusive aqui no Brasil.

Segundo o e-bit, no primeiro semestre de 2013 o e-commerce nacional cresceu suas vendas em 24%, bem mais que o varejo tradicional. Surpreendentemente, a categoria líder em volume de pedidos nos sites de compra brasileiros foi a de roupas e acessórios, seguida por eletrodomésticos e artigos de beleza e cuidados pessoais. Isso significa que os consumidores estão se acostumando a comprar pela internet produtos que no passado não eram levados para casa sem antes serem testados e aprovados em uma loja física. É verdade que hoje a regra é o chamado ‘omni-channel’, ou seja, a convivência integrada entre diferentes canais, subordinada à conveniência do consumidor. Isso faz com que varejistas virtuais abram lojas de tijolo e leva comerciantes tradicionais a se aventurarem no universo digital. A loja física não vai acabar, é claro. Mas sua hegemonia seguramente será bem menos expressiva no futuro.

A conclusão natural é que os shopping centers, que hoje vivem quase que exclusivamente do aluguel originário das lojas físicas, devem repensar seriamente suas estratégias. O problema é que hoje o avanço do digital não parece estar na ordem do dia das nossas principais administradoras de shoppings. Mesmo lá fora são poucas as experiências digitais, como a promovida pela GGP, que resolveu apostar na entrega no mesmo dia como estratégia - o cliente pode comprar na loja e receber em casa ou comprar online e pegar na loja em um dos quatro shoppings onde o programa está sendo testado. Há ainda quem estude o social commerce e a implantação de um marketplace virtual com a marca do shopping. O momento é esse mesmo, de estudar e experimentar caminhos, para defender a relevância. Porque o que não faltam são exemplos de que o consumidor está abraçando o digital e abrindo mão de hábitos tão arraigados como consultar relógios de pulso e usar máquinas fotográficas.

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