quarta-feira, 2 de junho de 2010

Felicidade não se compra?

Aconteceu de verdade, nos Estados Unidos – a Coca-Cola instalou uma daquelas máquinas que vendem refrigerante no refeitório de uma escola. Mas a máquina era, digamos assim, especial. Quando os estudantes inseriam o dinheiro, não saía lá de dentro apenas uma garrafinha, mas várias. Com tantas Cocas na mão, os estudantes acabavam oferecendo aos colegas os refrigerantes a mais. Porém, a coisa não parou por aí – um funcionário escondido dentro da máquina começou a passar pela fenda, de onde deveriam sair apenas as garrafas de Coca-Cola, caixas de pizza, flores, sanduíche de metro, balões em forma de cachorro, flores, enfim, uma infinidade de agrados, para espanto e alegria da garotada (você pode ver este vídeo na internet: www.youtube.com/watch?v=lqT_dPApj9U). Com essa iniciativa a empresa quer reforçar a idéia de que, mais do que comercializar produtos, sua missão é espalhar felicidade. Não é a toa que ela batizou suas máquinas de fábricas de felicidade” (happiness factory) e adotou o slogan “Abra a Felicidade”, numa alusão ao ato de abrir o refrigerante.

Não precisamos perder tempo discutindo se os produtos da multinacional americana podem de fato trazer felicidade, se são saudáveis ou nutritivos. Afinal, a questão aqui não passa pelo bem estar do corpo e sim pela busca do prazer, que hoje parece orientar boa parte das nossas escolhas. A verdade é que, de um jeito ou de outro, a felicidade agora pode ser encontrada em toda parte, pelo menos no que diz respeito à comunicação das marcas. A Best Buy, líder na venda de eletroeletrônicos nos Estados Unidos, também usa apelo semelhante em suas campanhas de publicidade – seu slogan é “Você mais feliz” (You, happier). No Brasil, o exemplo é seguido por gente importante, como o Magazine Luiza, que na sua propaganda convida o consumidor: “vem ser feliz”.

Essa guinada das empresas, que pararam de alardear a qualidade superior de seus produtos e passaram a vender felicidade, tem estreita relação com a mudança dos consumidores, hoje mais preocupados com os benefícios que as marcas trazem às suas vidas do que com o desempenho dos objetos que adquirem. Em outras palavras, mais do que deixar limpas as roupas da família, uma nova lavadora economiza tempo da dona de casa e de quebra a torna mais invejada pelas vizinhas – pura felicidade. Na mesma linha, o refrigerante no intervalo das aulas serve para refrescar e também adoçar a rotina de jovens estressados pelas pressões da sociedade.

Frank Capra, nos anos 40, dirigiu uma verdadeira obra prima, que em português ganhou o nome de “A felicidade não se compra”. Hoje em dia provavelmente esse título não faria sentido. Por que o que as empresas oferecem é justamente a ilusão de felicidade, embutida nos produtos que vendem.

Luiz Alberto Marinho sente-se verdadeiramente feliz quando começa a ler um livro novo enquanto toma um bom café na sua cafeteria preferida.

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