Não pretendo tomar partido na discussão proposta por Kamel – ele acredita que esses recursos não deviam servir ao consumo e sim a outras destinações, como educação. Minha intenção é encaixar mais uma peça nesse grande quebra cabeças que é o recente aumento do consumo no país. Já sabíamos que a combinação de fatores como a elevação da renda das famílias, a expansão do crédito e a confiança no futuro contribuíram fortemente para o crescimento de 9,6% nas vendas do varejo, registrado em 2007 pelo IBGE. Agora fica claro que também o dinheiro proveniente dos programas sociais do governo ajudou as lojas a vender mais televisores, móveis, fogões e máquinas de lavar.
Para você ter uma idéia do volume desses recursos, apenas o Bolsa Família distribuiu no ano passado quase R$ 9 bilhões, beneficiando 11 milhões de famílias e algo em torno de 26% da população. Para 2008 esse total deve subir para R$ 10,4 bilhões. Boa parte desse dinheiro está garantindo o pagamento das prestações dos bens duráveis adquiridos pelos consumidores da base da pirâmide.
Um bom exemplo disso é o Estado de Alagoas. Enquanto o comércio nacional avançou 9,6% em 2007, na comparação com 2006, o varejo de lá cresceu espantosos 19,2%. Ainda de acordo com a matéria do Ministério de Desenvolvimento Social, há 45 meses Alagoas bate recordes de consumo popular. A explicação está nos benefícios recebidos pela população – só os aposentados embolsaram da Previdência R$ 2 bilhões em 2007. O Bolsa Família jogou naquele mercado outros R$ 300 milhões. Detalhe – mais de 53% dos alagoanos são atendidos por programas de transferência de renda do governo.
Os recursos distribuídos por esses programas sociais são usados para complementar a renda das famílias mais pobres, que lastreadas pela segurança de um dinheirinho certo todos os meses sentem-se à vontade para assumir o crediário e aparelhar suas casas. Como o cenário não deve mudar e a demanda ainda é grande, dá para apostar que os bens duráveis continuarão puxando as vendas do varejo por um bom tempo.
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