sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Afinal, endividamento é bom ou não para o consumidor?

Hoje a coluna no Blue Bus falava sobre o papel do crédito no consumo do brasileiro. A respeito do assunto, recebi o seguinte e-mail do leitor Marcus Vinicius Foureaux, Diretor de Criação da FX Comunicação:




"Caro Luís, bom dia.

Comentando seu post no Blue Bus, na minha opinião, o problema é que crescimento econômico baseado em crédito é um risco que nem a maior economia do mundo conseguiu ficar imune a ele. Basta ver o tamanho do abacaxi que estão tendo que descascar pra não deixar a porca deles perder o rabo de vez.

Crescimento realmente sustentável, é quando as pessoas passam a ganhar mais e a consumir sem fazer dívidas, muitas delas impagáveis. E quem acabar saindo no prejuízo mesmo, são os donos de pequenos negócios, que não têm como se associar aos serviços de proteção ao crédito e ficam sem receber. Explico: se um cidadão tem uma prestação de R$ 60,00 do financiamento da geladeira nova e uma conta na padaria do bairro no mesmo valor e só tem R$ 60,00 disponíveis (o que não é raro acontecer), o que ele faz? Paga o carnê pra não "ir para o SPC" e o "seu Zé" que tenha um pouquinho mais de paciência... O resultado disso? As instituições financeiras "nunca antes na história desse país" ganharam tanto dinheiro e tiveram lucros tão grandes.
Enquanto isso, o "seu Zé" da padaria...

Otimismo é bom, mas tapar o sol com a peneira e fingir que está tudo bem, é outra coisa."


Agora, leiam a resposta que enviei ao Marcos:


"Olá Marcus,

O problema dos EUA é que o índice de endividamento da população é exorbitante. Para você ter uma idéia, o volume de crédito concedido nos EUA hoje corresponde a 164% do PIB deles. Por aqui, o volume de crédito ainda não bateu 40% do PIB. Ou seja, o crédito ainda tem espaço para crescer e vai continuar a fazer a diferença em 2008, especialmente nos setores automotivos, imobiliários e de eletrônicos. Essa pelo menos é a minha visão.

Quanto ao prejuízo do Seu Zé, é verdade que ele sofre mais com os riscos da inadimplência. Porém, cedo ou tarde boa parte dos inadimplentes acabam pagando, porque também precisam do crédito na padaria e na venda e no boteco. Mas não há dúvida alguma acerca do que você diz – o ideal é promover o aumento da economia e elevar a renda da população. Só tem uma coisa – mesmo com mais dinheiro no bolso, o consumidor vai continuar a acessar os serviços de crédito, seja para trocar de carro, para pagar aquela viagem de férias, ou para comprar a TV de 29 polegadas. Nossa capacidade de querer sempre mais é inesgotável. E quanto mais confiante e abastecido de recursos o brasileiro estiver, mais vai recorrer ao crédito para dar upgrade nas coisas que possui.

Note que estou apenas relatando um fenômeno da economia e do consumo e não defendendo isso como a coisa certa a fazer. Pessoalmente tenho sim sérias preocupações em relação ao consumismo desenfreado. Mas esse é outro assunto, para outra coluna. ;-)

Grande abraço e bom final de semana,

Luiz"

O Marcus respondeu assim:

"Olá, Luiz.


Realmente, o nível de endividamento, assim como o nível de volatilidade da economia americana é muuuuuio maior do que o nosso. E ainda tem o fato de que a maioria dos ativos das principais empresas americanas estão nas mãos de acionistas que não têm nada mais do que papéis nas mãos, o que gera uma espécie de "second life" na economia (rs). Basta ver que eles têm uma bolsa de valores específica para as empresas de tecnologia, cujo principal capital é intelectual e volátil. Mas, como vcv mesmo disse, isso é assunto que rende uns 100 artigos ou até mesmo um livro.

Grande abraço."

E você, o que pensa? Quer participar dessa conversa? Poste aqui seu comentário.

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