quarta-feira, 4 de abril de 2007

E se os políticos deixassem Brasília?


Uns 2 anos atrás, uma revista me pediu para escrever um texto sobre Brasília. Na verdade, eles queriam que eu e outros convidados imaginássemos o que aconteceria com a cidade se os políticos fossem embora. Vislumbrei Brasília como um parque temático. Mas a matéria caiu e esse texto nunca foi publicado. Era assim:

"Os engenheiros e suas máquinas chegaram um dia depois do último político partir. O referendo popular que definiu o destino da cidade produziu debates acalorados e muitos não se conformaram com a idéia de ver o sonho urbanístico de Lúcio Costa e os monumentos arquitetônicos de Oscar Niemeyer a serviço do entretenimento caboclo. Mas, apesar do resultado apertado, Brasília foi mesmo transformada em um grande parque temático, inspirado nas coisas do país. A Candangolândia.

Dois anos depois, estava tudo pronto. O Lago Paranoá foi adaptado para reproduzir o Rio Amazonas. Hoje uma balsa navega pelas suas águas e bonecos animatrônicos imitam a fauna da região, igualzinho como na Disney. Na Esplanada dos Ministérios instalou-se o Bumbódromo, onde partidários do Caprichoso e do Garantido medem forças diariamente, a partir das 7 da noite – o horário foi escolhido pelo pessoal de marketing, que queria começar a peleja com a frase “em Brasília, 19 horas”. O desfile das escolas de samba ficou no Eixão. As cariocas se apresentam na Asa Norte e as paulistas na Asa Sul. Mas sucesso mesmo faz o bungee jump no alto da Torre de TV.

O Parque da Cidade virou um monumento aos roqueiros de Brasília, tanto os nativos quanto os adotados. Num pedaço do parque encena-se toda a história do Faroeste Caboclo, da chegada do João de Santo Cristo ao planalto central até sua morte no duelo com Jeremias. Num anfiteatro moderno, músicos locais prestam homenagens a Cássia, Dinho, Zélia, Oswaldo e Herbert entre outros.

As mais importantes obras de artistas plásticos brasileiros foram repatriadas, inclusive o acervo completo de Portinari, e estão expostas no Museu do Alvorada, antiga residência oficial da Presidência da República. A estátua da Justiça foi vestida de baiana e o prédio antigamente ocupado pelo Supremo Tribunal Federal agora é dedicado à cultura afro-brasileira. Já o Palácio do Planalto virou museu da memória áudio-visual brasileira, um dos lugares mais visitados da cidade, apesar da polêmica suscitada pela escultura do Ronald Golias na rampa de acesso.

Apesar de tantas atrações, muitos fazem questão de arrumar um tempinho e passar em frente ao Congresso Nacional, lacrado desde que os políticos deixaram a cidade. Por um inexplicável motivo, esse prédio onde nada acontece continua a atrair multidões. Alguns praguejam, outros rezam e há ainda os que derramam lágrimas furtivas, de saudade ou rancor, sabe-se lá. Mas logo seguem adiante, na direção da antiga Catedral, onde hoje funciona a movimentada Praça de Alimentação de Candangolândia".

Um comentário:

Anônimo disse...

Olá Marinho, ano passado comecei uma micronovela besteirol que se passa em Brasília. Num futuro não muito distante, transformada literalmente na capital mundial da sacanagem: Pornorama.
Interrompida por longas férias logo nos primeiros capítulos, voltei a escrevê-la recentemente.
Dê uma passada lá. Espero que se divirta. Começe pelo primeiro capítulo. São curtos e semanais ( http://fonoflux.blogspot.com/2006/10/pornorama-novela-em-captulos-semanais.html ). Abraço
Milton