Este ano, o varejo brasileiro tem crescido em ritmo mais vigoroso do que o dos shopping centers. Segundo dados da Cielo, baseados nas transações efetivamente registradas nas lojas do país inteiro, o comércio nacional aumentou suas vendas nominais em 12,3% na primeira metade do ano, enquanto os shoppings cresciam apenas 5,7%.
A performance inferior dos shoppings é explicada pela Cielo como sendo consequência de dois fenômenos conjugados. O primeiro é a concentração nos shoppings de setores que tem experimentado resultados negativos esse ano, com destaque para o de vestuário. O segundo é o fato de que determinados segmentos, como as lojas de departamento, estão apresentando nos shoppings desempenho inferior ao de suas lojas de rua.
De fato, as lojas de departamento e as de vestuário concentram hoje 44% do mix dos shopping centers brasileiros, embora respondam por somente 21% no varejo nacional. Por outro lado, os segmentos com maior crescimento no ano, tais como super e hipermercados, drogarias e farmácias e alimentação, representam 19% dos estabelecimentos comerciais no país mas correspondem a parcos 7% do tenant mix dos shoppings.
A dependência dos shoppings em relação ao varejo de moda é realmente preocupante. Segundo a PMC - Pesquisa Mensal do Comércio, do IBGE, as vendas reais de vestuário e calçados recuaram 2,4% em junho e 4,4% em julho, na comparação com 2013. No acumulado do ano a queda é de 1,3%, descontada a inflação. Nas contas da Abrasce - Associação Brasileira de Shopping Centers, a performance do setor de vestuário é igualmente ruim - as vendas diminuíram 1,4% em valores nominais no primeiro semestre.
A preocupação aumenta na medida em que os problemas que afetam o varejo de vestuário não se limitam às incertezas da economia ou às desconfianças dos consumidores. Abalado entre outras coisas pela concorrência competente dos magazines e pelo impacto da formalização forçada na formulação de seus preços, o varejo de moda nacional ainda paga o preço exigido pela transição de um negócio antes voltado para o produto que precisa evoluir para um negócio orientado para o mercado.
Há alguns meses tive a oportunidade de ter uma conversa reveladora com uma alta executiva de um grupo controlador de importantes marcas de moda. Ela se queixava de que, apesar de ser responsável por 1/3 das vendas da empresa no atacado, não era ouvida pelo pessoal de estilo, que continuava acreditando que podia ignorar as demandas dos consumidores e impor ao país inteiro suas criações.
Para agravar o cenário, muitos jovens parecem mais interessados hoje em possuir o celular de última geração do que a roupa da última coleção.
Me incluo no grupo dos que veem com otimismo o futuro dos shopping centers no Brasil. Ainda há muito espaço para a construção de novos empreendimentos e para o aumento da participação dos shoppings nas vendas totais do comércio nacional. Porém, a luz de alerta está acesa, avisando que os problemas do varejo de moda precisam ser encarados com seriedade, para que essas lojas não funcionem literalmente como âncoras, daquelas que puxam o barco para o fundo e o impedem de seguir seu rumo.
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