Nos Estados Unidos a imprensa tem decretado a morte dos
shopping centers fechados, em reportagens ilustradas por fotografias tenebrosas (como essa ao lado),
que mostram centros comerciais abandonados. Por lá existe a percepção de que há
no país shoppings demais, fato agravado pela competição exercida de um lado
pelo comércio virtual e de outro pelos agradáveis lifestyle centers. Para
piorar, grandes redes varejistas estão ou fechando ou reduzindo tamanhos de
suas lojas, ajudando a elevar a vacância nos shoppings americanos. Rick Caruso,
CEO da Caruso Affiliated, ajudou a pautar boa parte dessas matérias ao afirmar,
em seu discurso na convenção da NRF deste ano, que os shoppings tradicionais
serão vistos em 10 ou 15 anos como uma aberração anacrônica, se não se
reinventarem.
No Brasil, algumas pessoas apressaram-se a papagaiar o
mesmo, estimuladas por uma matéria de capa da Exame cujo título insinuava que a
bolha imobiliária teria começado a estourar, não no segmento residencial, como
se previa, mas no comercial, com destaque para os shopping centers. Para
temperar a matéria, a Exame utilizou dados reais de shoppings que inauguraram
com baixíssima quantidade de lojas abertas. Será que os shoppings perderam seu
encanto? Não creio.
Por coincidência, no dia 27 de fevereiro, dia em que essa
edição da Exame chegou às bancas, eu almocei no prédio da Editora Abril, a
convite da repórter Ana Luiza Leal, que assinou a matéria sobre a tal bolha que
começava a estourar. Muito simpática, Ana Luiza me perguntou o que eu tinha
achado da reportagem. Respondi que a abordagem era inteligente e que os números
eram reais e ruins. Porém, a leitura apressada do texto poderia sugerir que o
mercado para os shoppings no Brasil havia se estagnado, o que está longe de ser
verdade.
Exatamente uma semana depois do almoço na Abril, eu estive no
Arapiraca Garden Shopping, em Alagoas, um dos exemplos usados pela Exame para
justificar o suposto estouro da bolha imobiliária comercial no Brasil.
Encontrei de fato um shopping ainda com 50% das suas lojas fechadas, mas com
uma intensa agenda de inaugurações previstas para ocorrer ao longo do ano, o
que permitirá ao shopping chegar ao final do ano em condições muito boas. O
mesmo acontece em diversos outros empreendimentos, que abriram suas portas com
poucos lojistas e vão aos poucos preenchendo os espaços vazios.
A situação é obviamente delicada para os shoppings e para os
lojistas que já abriram suas lojas nestes novos empreendimentos. No entanto, é
preciso considerar que cidades como Arapiraca e Sobral, ambas citadas pela
Exame, não contam com nenhum shopping center e que os empreendimentos inaugurados
nestes lugares são bem localizados, bem geridos e com boas perspectivas
comerciais. Em resumo, eles serão seguramente exitosos, é só uma questão de
tempo.
Por outro lado é preciso admitir que algumas cidades estão
recebendo uma quantidade de shoppings superior à capacidade atual destes
mercados. Sorocaba é o exemplo clássico, mas há várias outras na mesma
situação. "Muitas cidades médias receberam três shoppings ruins em vez de
um bom", disse com sinceridade e clareza à Exame o diretor da Aliansce,
Henrique Cordeiro Guerra. Ele está certo. O resultado, inevitavelmente, é um
desempenho bem inferior ao planejado por parte desses empreendimentos.
É preciso ainda lembrar que estes empreendimentos,
planejados em tempos quando o varejo apresentava crescimento real em torno de
10% ao ano, estão sendo inaugurados agora, quando o comércio tem elevado suas
vendas em cerca de 4%. A desaceleração do consumo fez com que muitas redes
pisassem no freio, outras adiassem planos de expansão e de quebra colocou
pulgas atrás das orelhas de muitos comerciantes pequenos, que diante de um
cenário menos favorável trataram de colocar suas barbas de molho e esperar um
pouco mais antes de abrir uma nova franquia ou multiplicar os pontos de venda
de seus negócios locais.
Ao mesmo tempo, a indústria brasileira de shopping centers,
que levou 45 anos para construir 430 empreendimentos - uma média inferior a dez
por ano -, resolveu pisar firme no acelerador. Em 2012 foram lançados 27, em
2013 mais 38 e este ano deve ser batido o recorde, com 43 novos centros. Serão
108 shoppings em apenas 3 anos. O ritmo de lançamentos deve diminuir a partir
do ano que vem, quando estão previstas 15 inaugurações, segundo dados da
ABRASCE.
A verdade é que nos últimos anos os ventos mudaram de
direção, afetando seriamente a sincronia entre a velocidade da expansão dos
shoppings e a do varejo no Brasil. Embora todo esse cenário não seja nem de
perto o ideal, concluir que a expansão dos shopping centers no Brasil é uma
bolha prestes a explodir é algo completamente equivocado.
Alguns empreendedores não perceberam antecipadamente a
dimensão do problema, enquanto outros estavam irremediavelmente comprometidos
com um calendário agressivo de entregas pactuado com investidores. Além disso,
a excessiva autoconfiança do setor aliada ao conservadorismo de suas ações,
ajudou a tornar o momento ainda mais difícil. Boa parte dos novos
empreendimentos tentam captar lojistas usando as mesmas práticas de velhos
tempos e os resultados não tem sido animadores.
A conclusão? Os shoppings enfrentarão tempos mais difíceis,
marcados por maior competição entre eles e também entre canais, como o
e-commerce. Precisarão ainda repactuar a relação com seus lojistas diante das
novas situações de mercado e rever suas velhas estratégias mercadológicas. Mas
não estão nem de longe ameaçados de extinção. A crise que enfrentam é similar à
de vários outros setores, provocada pela necessidade de adaptação aos novos
tempos. No final das contas, as dores do crescimento farão muito bem ao setor.
3 comentários:
Concordo com tudo. Só acho que o crescimento do mercado de Shoppings foi inversamente proporcional em relação a preocupação de se formar novos lojistas. Acho que a industria está carente de uma política de incentivo a novas marcas e sem criatividade nas negociações de novos espaços.
Concordo sao ajustes de oferta e demanda creio termo estouro da bolha um pouco forte, o cenario brasileiro eh bem diferente do que ocorreu no mercado Americano.
ate concordo em termos, pois para os grandes lojistas tanto faz abrir uma loja aqui ou ali, mas estes shoppings que abrem com 50% ou menos da capacidade , quem sai perdendo e muito e quem abriu pois os investimentos do shopping tambem vao ser super limitados , limitando o movimento do shopping consequentemente esse lojista nao vai faturar o suficiente para pagar suas contas , e se ele nao tiver um capital de giro altissimo ,( coisa que ninguem tem hoje em dia ) para sustentar a loja ate abrir o resto , ta fudid... , quebra , e o que esta ocorrendo e muito , por isso nao tem marcar novas , elas nao aguentam os custos. E uma roda , sem movimento , sem dinheiro , custos altos , FECHA AS PORTAS .
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