Quando a crise começou a mostrar as garras, no 2o semestre
do ano passado, muitos optaram por manter o otimismo. Afinal, havia ainda uma
eleição pela frente e apenas adivinhos (e dos bons!) seriam capazes de prever
os rumos da economia em 2015.
No começo do ano, já com a Presidente Dilma reconduzida ao
Planalto, a esperança concentrava-se nas medidas do pacote de ajuste fiscal
prometido pelo novo Ministro da Fazenda. Apesar da rápida deterioração do
cenário político, não foram poucos os que projetaram uma recuperação rápida do
consumo ainda no 4o trimestre de 2015, apesar das vendas oscilantes dos
primeiros meses do ano. Esses analistas baseavam-se no fato de que alguns dos
principais indicadores relacionados ao consumo ainda estavam positivos - o
principal entrave era a desconfiança crescente dos consumidores.
Neste momento, porém, já está suficientemente claro que a
situação para o varejo é bem complicada. Os números da Pesquisa Mensal do
Comércio, divulgados hoje pela manhã pelo IBGE, mostram que em agosto as vendas
nominais subiram somente 1,1%, o que significa na prática um recuo
significativo, considerando uma inflação de 9,5%. As vendas reais, medidas pela
PMC, caíram 6,9%, a quinta queda consecutiva na comparação do mês com mesmo mês
do ano anterior. Os três setores que mais contribuíram para este resultado
negativo foram super e hipermercados, móveis e eletrodomésticos, vestuário e
calçados. Como resultado desse cenário, começamos a ver varejistas fechando
lojas e adiando planos de expansão.
Nos shopping centers o panorama foi ainda pior em agosto. Segundo
a ABRASCE (Associação Brasileira de Shopping Centers), as vendas nominais recuaram
5,8%, puxadas para baixo pelas lojas de artigos do lar, vestuário, calçados e
entretenimento. A rigor, apenas perfumarias e óticas apresentaram pequeno
crescimento nominal, entre 1% e 2%. Nos shoppings do Norte e Nordeste a queda
chegou a 10,3%.
Confirmada a crise e suas assustadoras dimensões, cabe o
debate - como os shoppings devem enfrentá-la? A principal arma utilizada em
situações adversas tem sido a promoção, mas o sorteio de carros e prêmios
similares parece desgastado e em geral não mobiliza contingente muito superior
a 5% da base de clientes de um shopping. Liquidações e campanhas de ofertas
devem espalhar-se pelo país, mas trazem com elas o efeito colateral de reduzir
as margens dos lojistas, ampliando as solicitações de descontos em aluguéis.
O momento é de debruçar sobre as pranchetas para desenhar
novas soluções. Afinal de contas, essa crise não parece querer despedir-se do
nosso país tão cedo.
Um comentário:
O cenário não é o melhor, longe disso, mas é o terreno fértil para ideias inovadoras, corte de custos, operações mais enxutas, dessa forma lojistas podem "brigar" com inflação e vendas baixas. Mas seria bom mesmo se nossos governantes aprendessem a fazer um pouco dessa equação também!
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