quinta-feira, 3 de março de 2011

Adolescentes brasileiros são mais conectados, mais narcisistas e menos engajados que os de antigamente

Pesquisa da Enfoque, divulgada na semana passada, traça um retrato dos adolescentes brasileiros de hoje. Em alguns aspectos como, por exemplo, na manifestação de rebeldia para tentar ganhar respeito, no materialismo e na busca por reconhecimento, eles continuam iguais aos de antigamente. Mas a gente não pode esquecer que essa geração, nascida a partir de 1995, é uma turma que cresceu em plena era digital. E também foram educados em um ambiente familiar muito mais flexível do que o de alguns anos atrás.

O estudo mostra ainda que esses jovens vivem uma relação ambígua com o país - de um lado se orgulham do Brasil, pelas belezas naturais, pelo clima e pelo caráter alegre e descontraído do povo, mas de outro se decepcionam com a desigualdade, a corrupção e a violência. Aliás, a corrupção dos políticos é apontada como a principal razão pela qual eles não se interessam pela política. Mas é a violência a principal preocupação, porque influi diretamente na liberdade dessa garotada de ir e vir.

Como era de se esperar, nossos adolescentes ficam conectados 24 horas por dia, 7 dias por semana, e parecem que dependem disso para viver. Computadores e celulares são instrumentos que usam para estar em contato permanente com os amigos. O problema,  é que esses jovens recebem hoje informações de todos os tipos pela internet, na maioria das vezes sem a supervisão de adultos. O que faz com que eles fiquem mais expostos. Por sinal, ficar mais exposto, está longe de ser uma dor de cabeça para os adolescentes brasileiros. Eles gostam e procuram isso - em geral são narcisistas e parecem meio obcecados em ver e serem vistos. Para você ter uma ideia, a pesquisa observou que quando a garotada não tem nada para fazer, ela se auto fotografam, montando um acervo que o pessoal da Enfoque chamou de ‘egoteca digital’. Porém, como a gente sabe, alguns vão além e se fotografam também em poses sensuais, o que é facilitado pela tal falta de supervisão dos adultos.

Para terminar, os adolescentes continuam muito ligados nas grifes. E não apenas em grifes de roupa, mas também nas de eletrônicos, como celulares, computadores etc. As marcas servem para que eles se sintam parte de um grupo e ao mesmo tempo ajuda aos que querem se destacar dentro deste mesmo grupo. Outra forma que os adolescentes brasileiros usam para afirmar sua identidade e se integrar a um grupo é a música. O estilo da música e as bandas preferidas  dizem um pouco quem eles são e a que grupo querem pertencer. Detalhe - para essa garotada, música não é mais uma coisa que se compra, é uma coisa que se baixa na internet. Sem pagar, é claro.

Um comentário:

Anônimo disse...

Ual.
Você foi feliz em cada observação feita sobre os adolescentes. Apesar de estar na mesma faixa de idade dos citados no texto, não me enquadro nesse perfil. O que é bom. Por outro lado, também nao me sinto parte de um grupo. Estranha, intelectual e politizada são adjetivos que diariamente chegam aos meus ouvidos.
De qualquer forma, utilizo minha diferença para observar as relações e valores sociais dos meus colegas. Ironicamente, sei exatamente com o que se importam e poderia, muito bem,fingir ser uma coisa que não sou para obter prestígio entre eles. Mas isso agora não vem ao caso. Uma coisa posso afirmar, mesmo sem dados de pesquisas: pouco se importam com a política do Brasil e estão mais preocupados com a imagem que passam hoje do que a impressão que vão deixar no amanhã do país. A minha esperança é que eles, ou melhor, nós, utilizemos a possibilidade de conexão entre pessoas a favor de um mundo mais coeso e unido.
(uma esperança, claro, um tanto utópica...)

Acompanho sempre o blog, Luiz, e gosto muito de suas pesquisas.